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Insuflação com dióxido de carbono versus ar: uma metanálise

por Guilherme Sauniti
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Muitas são as variáveis que atestam a qualidade do exame, no ponto de vista médico. Tempo de chegada no ceco , índice de intubação do íleo, índices de detecção de adenomas e outros. Porém, todos estes indicadores de qualidade, dificilmente importam para o paciente. Para este, a qualidade do exame reside num preparo com pouco desconforto, um exame com boa sedação e analgesia, e um pós exame sem dor ou distensão. Vários são os métodos disponíveis para o preparo, adequando cada paciente a um tipo de preparo. Temos avanços na sedação , com medicamentos de ação rápida, segura e de qualidade. Por fim, novas técnicas vem sendo aplicadas visando diminuir o desconforto durante e após o exame.

Dentre estas novas técnicas, ganha espaço a colonoscopia com distensão por água,  e a com insuflação com dióxido de carbono (ICO2), principalmente em contexto de exames sem sedação. As técnicas com ICO2 iniciais datam da década de 50, posteriormente se provou que ele difunde 150  vezes mais rápido, diminuindo espasmo e dor. Assim, as publicações com uso de ICO2 vem se avolumando, justificando este estudo, que visa avaliar sistematicamente a colonoscopia com insuflação com ar (IA) versus a colonoscopia com ICO2.

Para este fim, os autores optaram por realizar uma revisão sistemática, com metanálise, onde foram incluído estudos com os seguintes critérios :

  •         Estudos tipo ensaio clínico randomizado
  • Comparação entre IA e ICO2
  • Avaliação do paciente com relação a dor e desconforto
  • Tempo de chegada no ceco ou taxa de insucesso

Como objetivo primário, os autores avaliaram a intensidade de dor (baseado em escala), quantidade de pacientes com dor durante o precedimento, e após uma, 6 e 24 horas. O objetivo secundário foi o tempo de chegada no ceco e taxa de colonoscopia incompleta.

Foram escolhidos 21 estudos , englobando 3607 pacientes, sendo 1801 no grupo ICO2 e 1806 no grupo IA.

Resultados :

  • Dor durante a colonoscopia : Há  maior incidência global de dor com o uso de IA (OR 0,50 CI:0,3-0,84 p<0,008), sendo que com uso de ICO2, há escores menores de dor (p<0,0002).
  • Dor após 1, 6 e 24 horas  : Há maior incidência de dor com IA nos três períodos (OR 0,24  p<0,03  /  OR 0,25 P<0,0006 / OR 0,42 p<0,0005), sendo que com uso de ICO2, há escores menores de dor para os dois primeiros perídos (uma e seis horas : p<0,0002 / p<0,01 / p<), mas não há diferença para os escores de dor após 24 horas (p=0,2)
  • Taxa de colonoscopia incompleta: Não houve diferença entre os grupos (p=0,83)
  • Tempo de chegada ao ceco (intubação). Há menor tempo de intubação com ICO2 (p=0,02).

Assim , os autores afirmam que há vantagens clínicas no uso de ICO2, como menor tempode chegada ao ceco, e principalmente menos desconforto durante e após o exame .

Pessoalmente, possuo pouca experiência com ICO2. Porém, não é incomum pacientes apresentarem dor após a colonoscopia, mesmo que por pouco tempo. Nem sempre é possível a retirada de todo o ar do órgão (sendo necessária nova intubação, o que em alguns pacientes não é possivel), e em outros, mesmo com aparente retirada do ar do cólon, ainda há dor (distensão do delgado ?). Assim, o uso de ICO2 parece ideal para colonoscopia, e o relato dos colegas que fazem uso desta tecnologia é sempre positiva. Porém, há o investimento necessário para tal, e este, nem sempre tem retorno garantido (não há pagamento diferenciado para colonoscopia com ICO2), o que inviabiliza a difusão em massa do ICO2.

 

Artigo original :

1 – Sajid MS, Caswell J, Bhatti MI, Sains P, Baig MK, Miles WF. Carbon dioxide insufflation vs conventional air insufflation for colonoscopy: a systematic review and meta-analysis of published randomized controlled trials. Colorectal Dis. 2015 Feb;17(2):111-23. doi: 10.1111/codi.12837

 

Veja também :

ARTIGO COMENTADO – Multicenter, randomized, tandem evaluation of EndoRings colonoscopy – results of the CLEVER study.

DIRETRIZES – Preparo intestinal para colonoscopia.

Artigo Comentado – Perfurações de trato gastrointestinal alto e colônicas. Medidas práticas de prevenção e avaliação.

 

 

 

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Doutor em Gastroenterologia pela FM-USP.
Especialista em Cirurgia do Aparelho Digestivo (HCFMUSP), Endoscopia Digestiva (SOBED) e Gastroenterologia (FBG).
Professor do curso de Medicina da Fundação Educacional do Município de Assis - FEMA.
Médico da clínica Gastrosaúde de Marília.


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4 Comentários

Felipe Paludo Salles 22/07/2016 - 12:59 pm

Manoel, a bomba de CO2 tem que ser da mesma marca do seu aparelho de endoscopia pois ela é conectada na “garrafinha” de agua que é específica de cada empresa. Sei que a Fuji e a Olympus já possuem bombas de CO2 a venda no Brasil.

Manoel Cardoso 21/07/2016 - 4:18 pm

quem sabe onde comprar
a bomba insufladora de Co2
para ser usada em Colonocopia ??

Bruno Martins 07/12/2015 - 1:02 pm

Parabéns pela escolha do tema Guilherme.
Tenho usado CO2 tanto para colonoscopia quanto para CPRE. O benefício do CO2 na CPRE é nítido. Especialmente nos exames prolongados.
Na colonoscopia acho que o CO2 ajuda especialmente no cólon difícil e confere maior segurança nas terapêuticas.
Quando não uso CO2, tenho o hábito de voltar até o ceco para aspirar o ar em todo o exame. O paciente se queixa muito pouco de desconforto abdominal com esta rotina. Mas se não voltar para aspirar o ar, a queixa é significativa.

Guilherme Sauniti 08/12/2015 - 1:49 pm

Infelizmente Bruno, não possuo, ainda, esta tecnologia. Imagino , que em procedimentos terapêuticos, o uso de insuflador de CO2 venha a se tornar mandatório. Quem sabe com a difusão do método, também não ocorra uma diminuição do preço do equipamento.
Também rotineiramente retorno ao ceco para retirar todo o ar, mas nem sempre é possível em todos os pacientes, e realmente, o pós exames pode ser um pouco desconfortável.

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